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domingo, 1 de julho de 2012

O corpo humano, obra-prima da criação (I)



Síntese do livro
O despertar da águia: o dia-bólico e o sim-bólico na construção da realidade,
de Leonardo Boff

Colaboração: José Guilherme Faifer


O corpo humano é a perfeição da criação e o ser humano, com seu corpo, o grau supremo da evolução. Já não se concebe o conceito de que "tudo estava pronto" e o homem foi criado. O homem faz parte do processo evolutivo e na sua perfeição, encerra toda a história.

"A vida humana é parte e parcela da história da vida. Esta, por sua vez, é parte e parcela da história da Terra. A vida humana deve ser entendida na lógica que preside os processos da Terra, da natureza, do universo inteiro. Não pode ser tomada como uma província à parte, desarticulada do todo. Todos e tudo se complementam. Ninguém fica fora da rede de relações includentes e evoluentes. Ninguém e nada apenas existe. Tudo e todos interexistem e coexistem" (Boff, 1999).

O homem é um "microcosmos" e traz nele toda a evolução, em todos os seus estágios.

Deus como um vulcão de amor em constante ebulição... Big-bang – uma explosão de amor – fonte de tudo – atinge toda a criação e deixa fagulhas no coração do homem – ser feito para o amor.

No seu corpo, há uma concentração e simbiose de todos os elementos da natureza: ar, água, minerais, vegetais, animais. Trazemos em nossa genética razão e instintos.
O ser humano é uma realidade simbólica: reúne todas as realidades, congrega-as a partir de diferentes pontos e faz convergir diversas forças num único feixe. A sua trajetória cultural é marcada pela vontade de poder e dominação: sujeitar a Terra, aproveitar-se de seus recursos, ignorar a autonomia dos demais seres vivos e inertes, conquistar outros povos e submete-los, criar mecanismos de exclusão geradores de pobreza e sofrimento. E aqui ele mostra a sua realidade diabólica, ou seja, a que desconcerta, desune, separa e opõe. Atrás dessa realidade diabólica, o homem tem deixado um rastro de devastação da natureza e de morte para os seus semelhantes.

"Urge ao homem refazer o caminho de volta, como filhos pródigos, à casa materna comum, à Terra. Abraçar os demais irmãos e irmãs, as plantas, os animais e todos os seres. Para regressar do exílio a que estamos nos submetendo, como na parábola bíblica do filho pródigo, temos que alimentar saudades e cultivar sonhos. Para refazer a aliança com a Terra e selar um pacto de benquerença para com todos os seres, os sonhos são da maior importância. Morrem as ideologias e envelhecem as filosofias. Mas os sonhos permanecem. São eles o humus que permite continuamente projetar novas formas de convivência social e de relação para com a natureza" (Boff, 1999).

É necessário ao homem uma nova experiência do sagrado e da sacralidade da natureza.

"O sagrado não é uma coisa. É a qualidade luminosa das coisas. Trata-se de uma irradiação que emana de todo o existente, de cada pessoa e do universo inteiro. Tudo pode causar encantamento e admiração. Tudo pode conter uma mensagem a ser decifrada. Tudo pode ser portador de um mistério. Mistério não constitui um enigma que, decifrado, desaparece. Mistério é a profundidade de cada realidade que, conhecida, nos desafia a conhecer mais e que permanece sempre mistério em todo o conhecimento. Mistério não é o limite do conhecimento, mas o ilimitado do conhecimento. Este conhecimento-mistério não é frio e formal. É carregado de emoção, de significado e de valor. Por isso é um conhecimento cordial. Produz uma experiência interior perpassada de comoção. Esta experiência evoca um sentimento profundo: de veneração, de encantamento, de respeito e de reverência" (Boff, 1999).

Sem o cultivo da experiência do sagrado não conseguimos impor limites à voracidade depredadora do tipo de desenvolvimento dominante, nem salvar ecossistemas e espécies vivas ameaçadas de extinção.

"Deus está em todas as coisas e todas as coisas estão em Deus. Há comunhão e não separação entre Deus e a criatura. Deus não habita apenas nos céus, mas em todas as partes, especialmente na profundidade do coração humano" (Boff, 1999).

Tudo no universo está em processo de Gênese. Também a vida.

Do mar de lava em fusão, consolidaram-se as rochas, por volta de 4 bilhões e 600 milhões de anos atrás – litosfera.

Em seguida veio o ciclo da atmosfera, fruto de gases que escaparam do interior da terra, mediante vulcões muito ativos.

Depois veio o ciclo da água – hidrosfera – também proveniente do interior da Terra e do intenso bombardeio de meteoritos de gelo que ajudaram a formar os oceanos e as bacias fluviais. Aí emergiu a diversificação das moléculas orgânicas. Os espaços cósmicos estão atravessados por uma nuvem finíssima de partículas microscópicas, a poeira interestelar. Ela contém moléculas potencialmente biogênicas – combinações extremamente reativas de carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, enxofre e silício.

Esses são os tijolinhos básicos dos organismos vivos. Tais elementos encontram-se em profusão nos meteoritos e cometas que se compõem fundamentalmente de gelo e poeira cósmica. Sob a ação de descargas elétricas e radiações, esses átomos foram constantemente rearrumados para produzir aminoácidos, base da construção da vida.

Todos esses elementos acomodaram-se nos mares e oceanos. Formou-se um caldo rico e quente.

Foi então, que há cerca de 3,8 bilhões de anos, nos oceanos, sob a combinação de vinte aminoácidos, irrompeu a primeira célula viva. É o ciclo da biosfera. A vida que vinha sendo gestada no universo, agora, num canto da Via-láctea, num sol periférico, num planeta de tamanho desprezível, num oceano qualquer, emerge a maior expressão do processo cosmogênico: a vida.

A vida, pois, resulta de um processo de auto-organização complexíssima da matéria e da energia do universo, que forma a teia da vida, que vem da mais alta ancestralidade. Foi adquirindo complexidade e emergência ao longo de todo o processo da evolução, até ganhar uma forma singular, consciente, inteligente e amorosa no ser humano, imagem de Deus.

E Deus viu que tudo era bom e no homem Ele repousou e nele fez sua morada.
(continua)

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