CONHEÇA MAIS!

CONHEÇA MAIS!
CLIQUE NAS IMAGENS DA LATERAL PARA NAVEGAR PELO NOSSO ACERVO DIGITAL

sexta-feira, 6 de julho de 2012

O corpo humano, obra-prima da criação (III)

(continuação)

O corpo como caminho para a transcendência
(1Cor 6, 18-20)

"E Deus viu que tudo era bom e no Homem Ele repousou e nele fez sua morada" .
O corpo como presença deve ser, na materialidade de nossas condutas, um corpo para a justiça, para a vida, para os demais.
O corpo é linguagem, comunicação, palavra dita e por dizer; é também, em sua tendência unitiva, possibilidade de fecundidade atitudinalmente humana.
O corpo, como minha presença, é caminho para a transcendência à medida que instrumentaliza minhas virtudes e transforma em ação minha fé.
Deus está presente nos mais profundos interesses do homem, que representam sua "preocupação última". Nesta perspectiva, Deus aparece, antes de tudo, como "fundamento do ser". Deus não é um fundamento estático e imóvel. Deus é fonte viva: um fundamento que é origem contínua e presença permanente.
É errada a concepção de que Deus criou o homem para servi-Lo. Não é esta a intenção do nosso Deus. É Ele quem deseja servir-nos; põe-se a nosso serviço para ajudar-nos em nossa realização, para que possamos suportar o peso de nossa existência, construir nossa pessoa e nossa história. Em Jesus, Deus não se mostra apartado da realidade e sim Alguém imerso no mundo e comprometido com a marcha da história. Se Deus é realmente Amor comprometido com a realidade do mundo, interessado nela até sua entrega total, resulta, sem dúvida, que na medida em que essa realidade avança, também o amor de Deus se realiza verdadeiramente.
Jesus revela-nos: Deus é o grande companheiro, que sofre conosco e nos compreende. Revela-nos o perdão, a misericórdia e o amor como caminho para nossa construção. Coloca-se como paradigma do que é ser humano, mostrando-nos que quanto mais somos humanos, mais nos tornamos divinos. Doa-se em alimento, que nos fortalece na busca de sua imitação e na continuidade de sua missão.
Parecer-se com Jesus é reproduzir a estrutura de sua vida.
Segundo o Evangelho, isso significa "encarnar-se" e chegar a ser carne real na história real. Significa "levar a cabo uma missão", anunciar a boa notícia do Reino de Deus, iniciá-lo com sinais de todo tipo e denunciar a espantosa realidade do anti-reino. Significa "carregar o pecado do mundo" sem ficar somente olhando-o de fora. Pecado que, certamente, continua mostrando sua maior força no fato de causar morte a milhões de seres humanos. Significa, finalmente, "ressuscitar", tendo e dando aos outros vida, esperança e alegria.
A misericórdia não é a única coisa que Jesus exercita, mas é o que está em sua origem e o que configura toda a sua vida, sua missão e seu destino.
Quem vive segundo o "princípio misericórdia" realiza o mais profundo do ser humano, torna-se semelhante a Jesus e ao Pai Celestial.
O corpo é caminho para a transcendência à medida que deixa transparecer, hoje, em nossa realidade, Aquele que habita em nós; à medida que faz presente, na história, Aquele que é o Princípio e o Fim de toda a História.

O corpo ressuscitado
(1Cor 15, 35-44)

O corpo é a expressividade de meu envelhecimento progressivo e ao mesmo tempo,pode ser - em outras dimensões, que também assentam-se e indicam nele - a consciência de minha própria e progressiva liberação.
O corpo é o ponto de encontro onde acontecem todas as minha relações:
  • pelo corpo, o mundo exterior entra em mim;
  • pelo corpo, o mundo interior se expressa e se comunica.
O corpo é um "indicador", um "sacramento".
O corpo é a síntese da matéria, onde convergem a informação exterior e interior.
A matéria é a concreção, a materialização do espiritual. É a energia condensada.
O mundo das energias sustém e mantém o mundo visível. A matéria é energia. A energia é a capacidade de ser, é possibilidade. Quando a matéria dá de si, desprende energia.
A matéria é instável e a energia concentrada na matéria está desejando liberar-se. Isto se sucede com nosso corpo, que está em movimento constante.
"Quando amamos, quando doamos, o corpo comporta-se como matéria que se abre e dá suas possibilidades".
Por onde me entra a salvação? Pelo meu corpo, pela matéria. É o lugar onde o divino trabalha. Sem corpo, Deus não poderia trabalhar.
O nosso corpo está liberando energia, mas esta fica conosco; aqui e agora não podemos ver essa energia.
A matéria abre-se, ondula-se, faz-se ondas de energia. Estas ondas de energia são a mesma matéria transformada. A matéria não fica empobrecida quando emite, pelo contrário, se é, na medida em que se transforma em energia.
"Daí que a grandeza da matéria é a capacidade de doar-se".

O pior que pode acontecer para uma pessoa é reter as suas riquezas e possibilidades para si e negar-se à expressão espiritual.
O homem, nas ondas que emite ao doar-se, tem cada vez mais pontos de contato com toda a criação. Na morte fica aberto a toda a realidade e em contato com a rede total, com o cosmos todo.

O corpo com que morremos não tem a ver com o da ressurreição, que é uma realidade além do corpo mortal com que morremos. Já emitiu toda a energia que tinha que emitir, cai e não entra na energia: é o cadáver.

Quando o homem morre, morre todo ele, e Deus o ressuscita. O corpo é retomado na sua totalidade, com a colheita da vida e se faz corpo espiritual.

A soma de todos os corpos mortais que tivemos (o de bebê, de criança, de adolescente, de jovem, de adulto etc.) junto com toda a energia emitida e com tudo o que nos fez, completou e enriqueceu, será transformado por Deus (Ressurreição) e constituirá o nosso corpo espiritual.

Corpo não é um conjunto de moléculas animadas, energias ou chacras. É tudo o que o ser humano acumulou e teceu nas relações com as mais diferentes realidades com as quais se confrontou. É a história pessoal, intrincada com a social e cósmica. Assim, na vida, o mundo que marcamos e que nos marcou, entra na composição do nosso corpo.

Morrer e ressuscitar na morte não pode significar, portanto, a transmigração da alma para Deus. É a chegada da totalidade do ser humano em Deus, fonte de toda a beatitude e potenciação de todo ser.
Como se depreende, a ressurreição é um processo que vai ocorrendo ao longo da vida. Vamos lentamente ressuscitando, à medida que lentamente também vamos morrendo. Na morte, a ressurreição explode e implode e permite à vida humana uma realização impossível se continuasse presa aos limites do aqui e agora.

Destarte, morrer não é um caminhar para um fim-limite. É peregrinar para um fim meta-alcançado. Por isso, nós não vivemos para morrer... Morremos para ressuscitar. Para viver mais e melhor.

Resumindo...
      Como se vê, em nosso corpo imanente abriga-se nossa transcendência.
      Como imanência - aquilo que nos liga a toda uma escala evolutiva - somos carregados de instintos e paixões que, se não trabalhados, podem fazer de nosso corpo uma fornalha, cujo combustível é o egoísmo, a ambição, a luxúria, a soberba, a ira, a gula, a preguiça, a inveja, e cujo fogo nos consome em nossa trajetória.
     Nessa situação, corremos o risco de que, quando este corpo perecer, não tenha sobrado quase nada de nós.
      Este é o corpo que reteve suas riquezas para si e negou-se à expressão espiritual.
      Por outro lado, vimos que a salvação entra pelo nosso corpo, que é o lugar onde Deus trabalha.
     Se, pela nossa dimensão transcendente, trabalhamos nosso corpo, dominando os instintos e cultivando a humildade, a partilha, a temperança, a paciência, o trabalho, a caridade, a castidade, a misericórdia, então este nosso corpo será um útero onde estaremos gestando nossa verdadeira identidade.
     E quando este corpo tombar, deixará aparecer uma nova realidade, muito mais rica, grandiosa e brilhante, à qual Deus chamará pelo verdadeiro nome.
     Será um tempo em que o frio e o calor ou o sofrimento e a dor já não estarão; um tempo em que Deus enxugará as lágrimas de nossos olhos e então poderemos vislumbrar e viver a eterna estação da primavera – a plenitude.

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...